"Reparte generosamente com os pobres; a sua justiça dura para sempre; seu poder será exaltado em honra" Salmos 112:9

A importância da Capelania Hospitalar

Descrição do post.

Fonte: https://hbpsantos.org.br/

2/24/20256 min read

A visita hospitalar oferece na maioria das vezes, benefícios para os pacientes e seus familiares em função do apoio, da solidariedade e conforto que ela representa. Se além desses fatores, a visita oferece ainda, o conforto espiritual, o benefício ganha uma proporção maior, não apenas para o paciente e seus familiares, mas também para os colaboradores do hospital.

É aí que entra a Capelania Hospitalar.

É de conhecimento público que a Capelania Hospitalar na Beneficência é desenvolvida desde sua fundação em 1859 e oficialmente, a partir da inauguração da Capela Santo Antônio, em 13 de junho de 1930. Os padres responsáveis pela Capela sempre contribuíram e continuam contribuindo para a saúde espiritual e emocional daqueles que necessitam desse apoio.

Temos observado que nos últimos tempos tem aumentado a disponibilidade de outras lideranças com relação a seus préstimos aos acamados, na expectativa de colaborar para amenizar a carência espiritual, até certo ponto natural por parte de quem está em leito hospitalar e distante do convívio familiar.

Contudo, o hospital ainda não havia assumido a sistematização desse serviço realizado por tradição, mas há anos garantido pela Constituição Federal de 1988 (Lei n.º 6923, Art. 5, Inciso VII) que assegura a prestação de assistência religiosa em entidades civis e militares de internação coletiva. Se a Constituição brasileira prevê uma ação e normas para seu funcionamento e disciplinamento, é porque é importante, ou seja, o reconhecimento de que a assistência religiosa e social é benéfica.

Se analisarmos o histórico da sociedade como um todo, concluiremos que a Capelania Hospitalar é de estrema importância para o bem-estar dessa mesma sociedade lembrando que no passado os sacerdotes eram os chamados médicos da alma, os cura d’almas, e os templos religiosos eram utilizados, inclusive, como locais para atendimento e abrigo de enfermos.

Segundo historiadores, no ano de 437 a.C., Hipócrates que 23 anos antes deu início à fundamentação da medicina moderna, incentivou que todos os templos atuassem como hospitais, unidades que só passaram a existir séculos depois por iniciativa do Imperador Romano Constantino, que em 335 d.C., determinou a criação de hospitais cristãos.

Com base em pesquisas, percebe-se que no transcorrer dos tempos, saúde, medicina e acompanhamento espiritual sempre estiveram relacionados. E a capelania sempre esteve relacionada a estes vínculos com a participação de um sacerdote encarregado dos ofícios religiosos, da confissão e do aconselhamento pastoral.

Mais recentemente no século XIX, precisamente no ano de 1857, o Papa Pio IX, baseado em ações do antigo reino da França, que no transcorrer das guerras enviava relíquias ou simplesmente o oratório de São Martin de Tours, para os acampamentos militares para que os soldados pudessem, junto às peças e na companhia do sacerdote, buscar conforto espiritual, estendeu o trabalho de capelania foi para colégios, prisões, parlamentos, cemitérios e hospitais.

Porém, não esqueçamos que em vários momento da história, ciência e religião estiveram bastante distanciadas e o período recente mais significativo desse afastamento tem registro no século passado quando cientistas, pesquisadores e médicos adotaram uma linha mais materialista, relegando a segundo plano, e na maioria das vezes negando que a fé ou o acompanhamento espiritual pudessem propiciar ao paciente, qualquer benefício.

Felizmente esse distanciamento vem diminuindo a cada dia, com a ação da capelania provando sua importância, principalmente quando situações de risco, eminentes ou não, se aproximam de nós, dos nossos entes queridos e até de incrédulos na hora crucial da vida de cada um com o seu cada qual (momento).

Para provar a importância da assistência religiosa, recorremos não apenas à nossa Carta Magna (Constituição), mas à recente história eclesiástica do Brasil que ostenta vários registros de ações pastorais identificadas como Ministério de Capelães, mostrando que o ofício de capelania moderna iniciou-se na Área Militar em 1858, através da Igreja Católica, sendo nominada na época por Repartição Eclesiástica e abolida em 1899.

Segundo o historiador espanhol, Juan Bautista, que define a capelania hospitalar como uma organização religiosa interdenominacional com a finalidade principal de prestar assistência espiritual em instituições hospitalares, o serviço foi restabelecido em 1944, durante a Segunda Grande Guerra Mundial, com o título de Assistência Religiosa das Forças Armadas. Ainda neste período, foi criada a Capelania Evangélica na FEB, tendo como destaque, o grande Capelão Evangélico Pastor João Filsen Soren, da primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, que compõe a União de Capelães e Pastores Interdenominacionais (que não distingue denominação, ou seja, que não é exclusivo de uma igreja).

Esse conceito de capelania hospitalar ressalta mais ainda sua importância, observando-se que no Brasil é comum a existência de instituições que só têm um capelão, o padre ou o pastor, mas há também aquelas que dispõem dos dois representantes espirituais, ou que embora esteja oficializado apenas o sacerdote católico, está aberta a representantes de outras religiões.

Como a Capelania Hospitalar sintetiza os serviços religiosos prestados nos hospitais com o objetivo de dar apoio aos pacientes e familiares durante o período de internação, independentemente dessas unidades serem ou não de origem religiosa e apesar da liberdade de culto e do sincretismo religioso que existe no País, observa-se que não há aquela esperada valorização do cuidado espiritual a ponto de justificar a instalação de serviços de capelania hospitalar formalmente instituídos.

Apesar dessa realidade (ainda incipiente valorização para com o cuidado espiritual) uma grande movimentação pela humanização na área da saúde, mesmo que baseada em padrões estrangeiros, passou a valorizar esses esforços, evidenciando que a humanização auxilia, no mínimo, a amenizar os extremos (ansiedade e depressão) apresentados por significativa parcela dos acamados em leitos hospitalares.

Sabemos que a Capelania Hospitalar objetiva em primeiro lugar o atendimento espiritual e religioso aos pacientes hospitalizados, bem como aos seus familiares e aos profissionais da saúde, através do apoio emocional e social aos hospitais, contribuindo para com a humanização do ambiente e consequentemente elevando sua qualidade de atendimento

Por esta razão a Beneficência Portuguesa entendeu que, pioneira em várias ações, poderia e deveria também promover o I Curso de Capelania Hospitalar, para capacitar os interessados em se doar como voluntários a essa importante missão de levar o conforto através da fé àqueles que se julguem necessitados desse estímulo, enquanto internados na instituição.

Foi para atender as necessidades espirituais de pacientes e familiares, que a Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos decidiu organizar e promover o I Curso de Capelania Hospitalar, dentro do Projeto Social de Humanização (PSH) da Instituição, implantado oficialmente em 17 de fevereiro de 2017.

Reconhecido e legitimado na instituição, inclusive de conhecimento público, o Projeto Social de Humanização que envolve voluntários e colaboradores das mais diferentes áreas, hoje busca padronizar a prestação da assistência espiritual, de acordo com as leis vigentes no País, salvaguardando o cuidado e o respeito à cultura e aos valores espirituais dos pacientes e familiares.

Por isso, nos sentimos honrados por sermos destacados para falar sobre a importância da capelania hospitalar, nesse que é o primeiro curso do gênero, promovido por uma instituição hospitalar da região. O curso é destinado a um público específico, independentemente de religião; destina-se às pessoas interessadas em aprender e engrossar as fileiras dos voluntários que levam conforto espiritual a quem necessita, seguindo as regras pertinentes à instituição responsável pelos beneficiados.

A Beneficência Portuguesa de Santos entende que a aderência ao tratamento médico (assiduidade com a qual seguimos as recomendações médicas), a satisfação do atendimento, a superação das adversidades e a qualidade de vida que envolve também o cuidado e respeito espiritual, passam pela humanização, o que nos credencia à realização desse I Curso de Capelania Hospitalar.

*Ademir Pestanapresidente da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos é vereador na Câmara Municipal de Santos, autor do Projeto de Lei tramitando nas Comissões do Legislativo, que dispõe sobre a regulamentação do Serviço de Capelania na Cidade.

Fonte: https://hbpsantos.org.br/